sábado, 19 de julho de 2008
Memória do futebol pernambucano – Sport Club Flamengo
História:
O Sport Club Flamengo foi um clube de futebol brasileiro, da cidade do Recife-PE.
Seu maior feito foi conquistar o primeiro título de campeão pernambucano de futebol em 1915.
O Sport Club Flamengo, primeiro campeão de futebol, foi fundado a 20 abril de 1914, e seu padrão era calção branco, camisa preta, com uma cruz branca no peito esquerdo, resquício do antigo Cruz Branca do qual se originou. Seu nome resultou da simpatia dos seus associados ao Flamengo do Rio de Janeiro, que naquele ano tinha sido campeão carioca. Depois, o Flamengo tirou a cruz branca do peito, mas continuou alvinegro.
O primeiro campeonato promovido pela Liga Sportiva Pernambucana foi disputado por seis clubes Santa Cruz, Torre, João de Barros (depois América), Centro Sportivo do Peres, Coligação Sportiva Recifense e Sport Club Flamengo. O jogo de abertura foi entre as equipes do Santa Cruz e Coligação Sportiva Recifense, no dia 1 º de agosto de 1915, na Campina do Derby. A vitória foi do Santa Cruz por 1x0, gol de Mário Rodrigues.
Ao fim do primeiro turno, como Santa Cruz, Torre e Flamengo, os reais candidatos ao título, estivessem empatados na tabela, o presidente da Liga, Tenente Henrique Jacques, resolveu não mais realizar o segundo turno e determinou uma série de partidas extras entre os três, a fim de que fosse logo conhecido o campeão de 1915.
Estabeleceu, ainda, a cobrança de ingressos, betl1 como a transferência dos jogos da Campina do Derby para o campo do British Club, que era todo murado. Revoltados, os torcedores encaminharam cartas aos jornais, protestando contra a medida. Argumentavam que, além do ingresso, teriam de pagar, também, a passagem do bonde para ir e voltar, uma vez que o campo do British ficava muito afastado do centro da cidade.
As críticas não fizeram Henrique Jacques recuar e os ingressos foram colocados à venda aos seguintes preços:
Senhoras e crianças de menos de 12 anos, 500 réis; cavalheiros, 1 mil réis;cadeira para cavalheiros, 2 mil réis e cadeiras para senhoras, 1 mil réis.
Apesar da grita, no domingo 28 de novembro, logo nas primeiras horas da tarde, o British Club apresentava um movimento desusado. Todas as dependências estavam tomadas pela massa, na sua grande maioria torcedora do Santa Cruz. Incentivado pelo grande público, o Santa Cruz deu um show de bola, saindo do campo ovacionado pela multidão, satisfeita com a goleada de 5x0, imposta ao Torre. O meia Alberto Campos marcou 3 gols, enquanto Dória e Pitota completaram os 5xO.
O juiz foi o inglês Mr. Foster e as equipes alinharam desta forma: Santa Cruz, Ilo Just, Bibi e Crócia; Luiz Lima, Carvalho e Manoel; Jorge, Alberto Campos, Pitota, Mário e Dória. Torre - Mário Pinto, Zé Luiz e Antunes;. Reis, Austragésilo e Barroso; Barreto, Álano, Manoel Lopes, Gátis e Cleto.
Como favorito e considerado pela imprensa como provável campeão do ano, o Santa Cruz voltou ao campo no dia 5 de dezembro para enfrentar o poderoso time do Flamengo, que até um inglês tinha, o atacante Percy Fellows. Novamente casa cheia. Os meninos do Santa Cruz, desta vez, porém, não acertaram o pé. Nos primeiros minutos, chegou-se a pensar que o Santa Cruz partiria para outra goleada, pois foi quem abriu o escore, num gol de Pitota. O Flamengo que tinha de fato um time forte, reagiu e logo empatou. Antes de terminar o primeiro tempo, o placar já lhe era favorável por 3xl. No quarto gol, o jogo passou a ficar violento, obrigando o arbitro a expulsar Luiz Lima, do Santa Cruz, e Lelis do Flamengo. Mr. Foster tinha fama de referee competente e imparcial, como acabara de demonstrar botando para fora de campo seu próprio cunhado, Luiz Lima. Quando a partida acabou, não havia mais quase ninguém em campo. Os meninos do Santa Cruz tinham perdido de 6x2, e também a chance de se tornarem primeiros campeões pernambucanos de futebol.
A derrota do Santa Cruz consternou quase toda a cidade. Tanto que os jornais não se interessaram mais em destacar a terceira partida. O Jornal Pequeno ainda chegou a incentivar o Santa Cruz, mostrando a hipótese de que, se o Flamengo perdesse do Torre, todos estariam iguais mais uma vez. Só na véspera do encontro, sábado 11 de dezembro, foi que os jornais noticiaram: Amanhã, poderá ser conhecido o campeão de 1915..
Com o mesmo time que havia derrotado os meninos, inclusive com o ágil Armando Lelis na equipe, o Flamengo enfrentou o Torre, que lutou desesperadamente para apagar a má impressão deixada na última partida, mas nada conseguiu. O Flamengo ganhou relativamente fácil de 3.x l, conquistando o título de Primeiro Campeão Pernambucano de Futebol.
Flamengo: Luiz, Alves e Albuquerque; Frederico, Ruy e Abdon; Waldemar, Gastão, Taylor, Percy Fellows e Lelis.
Torre - Lopes, Antunes e Austragésilo; Barros, Mario Pinto e Luiz; Barreto, Cleto, Alvaro, Gatis e Sidnei.
LUIZ CAVALCANTE, ALBUQUERQUE, FRANCISCO ALVES, FREDERICO, RUY,
ABDON, FARIAS, PERCY, TAYLOR, GASTÃO E WALDEMAR.
Flamengo do Recife, o primeiro campeão pernambucano (1915)
“Encerrou-se anteontem, com a vitória do Sport Club Flamengo contra o Torre Sport Club, o campeonato da Liga Sportiva Pernambucana, instituído para o football. Depois de uma série de matchs emocionantes, que trouxeram em constante delírio o público esportivo do Recife, teve o Flamengo coroado os seus esforços e firmada a sua força dentre os seus dignos adversários nas lutas pacíficas do esporte. O Flamengo do Recife quis ser o êmulo do seu congênere do Rio, e vencendo a tática do Santa Cruz e a tenacidade do Torre, soube guardar para si os louros da vitória - e as “louras medalhas.”
Nota do Diário de Pernambuco, em sua edição de 14 de dezembro de 1915.
O advento do profissionalismo foi cruel para o Flamengo, que deixou de ser aquele time temido dos anos 20. Como era ardoroso defensor do amadorismo perdeu muitos de seus jogadores para os times profissionais. Os patativas (como eram conhecidos) caíram na vala comum dos times pequenos e tiveram um fim melancólico, chegando em 1938 a perder para o Sport por 16 a 0, e em 1945 por 23 a 2 para o Náutico.
Time do Flamanego em 1926
Fonte: Blog Futebol de Pernambuco em Fotos
Livro História do Futebol em Pernambuco - Givanildo Alves
terça-feira, 1 de julho de 2008
Memória do futebol pernambucano - América Recife
América Futebol Clube (Recife) - Mequinha, Glorioso, Alvi-verde
América Futebol Clube é um clube brasileiro de futebol, da cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco. Sua sede histórica ficava localizada na estrada do Arraial no tradicional bairro de Casa Amarela, zona norte da cidade.
História
Foto dos fundadores do América
O América foi fundado em 12 de abril de 1914 com o nome de João de Barros Futebol Clube, por ter surgido numa casa situada na avenida do mesmo nome. Quase foi o primeiro penta-campeão do futebol pernambucano.
Em 22 de agosto de 1915 passou a ter a denominação atual a pedido do desportista Belfort Duarte, ligado ao América do Rio de Janeiro, que viera ao Recife buscar apoio para a fundação da Federação Nacional de Esportes, antecessora da antiga CBD.
Em visita a Pernambuco em agosto de 1915, Belfort Duarte, um dos símbolos do futebol brasileiro, recebeu uma homenagem do JBFC. Na noite de 22 de agosto, Belfort Duarte foi distinguido como capitão honorário do clube e mudou o nome do clube para América Futebol Clube, em homenagem ao seu clube de coração: o América Football Club do Rio de Janeiro.
“Comunico-vos que em Assembléia Geral do João de Barros Futebol Clube, reunida no dia 22 de agosto de 1915 deliberou a mudança de nome daquela sociedade que ficou denominada "América Futebol Clube", convicto que esta deliberação em nada mudará as atenções dispensadas ao nosso antigo JBFC e espero a continuação das mesmas ao América Futebol Clube.
Carta de Belfort Duarte enviada a imprensa.”
Títulos
Troféu Nordeste: 1923
Estaduais
Campeonato Pernambucano: 6 vezes (1918, 1919, 1921, 1922, 1927 e 1944).
Vice-Campeonato Pernambucano: 9 vezes (1923, 1924, 1930, 1941, 1945, 1947, 1948, 1950 e 1952).
Torneio Início: 11 vezes (1921, 1930, 1931, 1934, 1936, 1938, 1941, 1943, 1955, 1967 e 1970).
Taça Recife: 1975.
Ídolos:
Alberto Salonni: jogou pelo América em 1932
Vavá: jogou pelo América em 1948, mas sem muito destaque logo se transferiu para o Íbis Sport Club e Sport Club do Recife, jogou na seleção brasileira.
Zé Tasso: jogou pelo América de 1918 a 1923
Dequinha: participou da Copa do Mundo de 1950.
Oséias: campeão da ultima conquista do América pelo pernambucano em 1944.
Torcedores ilustres:
João Cabral de Melo Neto (escritor)
Rubem Moreira (Rubão): ex-presidente da Federação Pernambucana de Futebol
Alexandre G. Moreira Miranda: ex-presidente do Santa Cruz Futebol Clube e também ex-presidente do América Futebol Clube
América Bicampeão 1919
Curiosidades
- O América já teve a terceira maior torcida do estado, ficando atrás apenas do Santa Cruz e do Sport. Perdeu a posição para o Náutico, seu maior rival. Atualmente não tem um número expressivo de torcedores.
- O América é a quarta força do estado de Pernambuco em se tratando em número de títulos conquistados. Atualmente a quarta força do estado é o Central da cidade de Caruaru que não tem nenhum título pernambucano da 1° divisão.
- O América Futebol Clube, mesmo com tanta tradição na área futebolistica, nunca teve um estádio propriamente dito. Até o inicio dos anos 1990 era comum vê-lo jogando com mando de campo nos estádios dos principais rivais.
- O América já teve outros esportes agregados além do futebol, como o futebol de salão onde conquistou o título da cidade do Recife em 1981 e o título pernambucano de 1985 e o vice campeonato em 1989 e o basquete este sendo vice campeão pernambucano em 1977 e 1978.
A importância do América no futebol pernambucano
As novas gerações não têm idéia da importância do América, em épocas já remotas. Se hoje o futebol pernambucano tem três grandes equipes, até meados dos anos 50 do século passado eram quatro. Tanto que o encontro entre o alviverde e o Náutico era denominado de Clássico da Técnica e da Disciplina.
Os concursos com tampinhas de refrigerantes, como a laranjada Cliper, traziam a foto dos craques do América, junto com os do Náutico, Sport e Santa Cruz.
Velhos americanos atribuem à falta de um estádio, ao contrário de Náutico, Santa Cruz e Sport, um dos motivos de o América ter encolhido através dos anos.
Na verdade, o alviverde não tinha pouso certo. Ora treinava nos Aflitos, ora na Ilha do Retiro – ainda não havia o Arruda – em troca da indicação daquele estádio para os jogos cujo mando lhe pertencia. O campo de Bebinho Salgado, em Apipucos, durante muito tempo acolheu os periquitos, como também eram chamados os americanos.
Em 1981, o alviverde transferiu seu futebol para Jaboatão dos Guararapes, cidade de grande porte geminada ao Recife. Era a tentativa de abrir um novo espaço e atrair o pessoal da terra. Não deu certo. Voltou para a Estrada do Arraial. Mais tarde houve outra mudança para Jaboatão. Mais frustração.
De uns anos para cá, depois que a Federação Pernambucana de Futebol, visando a evitar troca de favores, determinou que é necessário que o clube inscrito no campeonato indique um estádio para mandar seus jogos, que não seja o de qualquer um dos demais concorrentes, o América, a exemplo de um Íbis ou de um Decisão, recém-fundado, começou a andar de um canto para outro. Esteve em Bonito e Goiana, sempre contando com a ajuda, que não era lá essas coisas, do município.
Hoje, batalhando para voltar à elite, o Campeão do Centenário terá seu sonho adiado. Estava inscrito na Série A2, a segunda divisão pernambucana, para disputar o campeonato de 2007, mas tirou o time, literalmente. Levaria seus jogos para Goiana – 50 quilômetros do Recife, na Zona da Mata Norte -, onde já esteve no ano passado. Alegando falta de apoio da prefeitura, pediu afastamento do campeonato. Só que, de acordo com o regimento da FPF terá que voltar dentro de dois anos, sob pena de ser desfiliado.
Concorrente de peso ao título de campeão, o América lutava de igual para igual com alvirrubros, tricolores e rubro-negros, bem como com clubes já extintos – Torre, Flamengo e Tramways. Sua decadência coincidiu com o surgimento do Náutico, como potência. O clube dos Aflitos, situado relativamente perto do América, começou absorver a criançada da região que ia despertando para o futebol.
O dia em que o América humilhou o Náutico.
A vitória do América sobre o Náutico por 10x1, no dia 28 de abril de 1918,no campo da Ponte d’Uchoa, local de todos os jogos do certame daquele ano,constituiu-se na primeira grande goleada do futebol pernambucano.
Esta partida assinalou a estréia oficial pelo América dos jogadores Alecsi Nuyens e Francisco Bermudes, que pertenciam ao Palmeiras de São Paulo. Eram os dois mais novos sócios do América, como diziam os jornais, mas que na verdade não passavam de profissionais disfarçados.
Alecsi Nuyens, que a imprensa escrevia “Alexi”, era um vigoroso zagueiro central e fora contratado pelo clube alviverde,quando da sua vinda ao Recife em 1917,jogando pelo Palmeiras,a exemplo de Francisco Bermudes, que era centromédio.
Pelo seu físico avantajado, a imprensa local terminou apelidando Bermudes de ”Maxambomba”, em alusão aos trens da “Brazilian Street Railway” um dos meios de transportes da nossa capital nos primeiros anos deste século.
Os dois novos “sócios” do América, pela larga experiência e uma técnica mais apurada, foram os sustentáculos do clube esmeraldino em todo o campeonato. 0 investimento valeu a pena, pois o América acabou ganhando o certame de 1918, seu primeiro título de futebol.
O “Jornal Pequeno” (29.4.1918) contou desta maneira a marcha do placar:
“Os alviverdes estão senhores da situação, e o Náutico pouco a pouco vai cedendo as suas posições até que Monteath, a uns trinta metros de distância faz às 4,8 o 1.° gol dos americanos.
Diversas faltas de ambas as partes são punidas; numa delas, Barbosa Lima chuta, Alexi com um belo heading defende magistralmente a iminência daquele gol, fazendo dirigir-se a bola para Sigismundo, que, passando para a extrema, consegue driblar a Barbosa Lima e fazer às 4,16 o 2.° gol do América.
O alvirrubro a mais e mais vai se entregando. Sigismundo consegue tomar a pelota de Grevy e passá-la a Karl que, atrapalhado por Barbosa Lima, a entrega a Soares. Este estando maL colocado, passa a Monteath que, por estar em impedimento, é punido com um tiro livre.
Mas o domínio do América era um fato. Logo depois Zé Tasso, às 4,21 faz o 3.° gol do seu clube.
Também Karl, aproveita o desânimo da linha náutica, e faz o 4.° gol.
As 4,30, Soares, o único até então da linha que não fizera gol, completa o 5.° ponto de uma bela passagem de Zé Tasso. E com esse escore termina o 1.° tempo.
Na segunda fase do jogo nota-se na fisionomia dos jogadores alvirrubros o cansaço, o desânimo,o esgotamento. O América extraordinariamente mais forte que o seu antagonista ataca rigorosamente o Náutico, conseguindo dentro de 5 minutos três gols: um feito por Sigismundo às 4,59, outro por Zé Tasso, às 5,1 outro às 5,4 por Monteath. Nesse ínterim há uma falta contra o América; batida, Alexi defende com a testa, porém a pelota cai perto dos pés de Ivan, que às 5,8 faz o único ponto para seu clube.
Mas o América não queria empatar com o Sport (21), queria mais, e assim conseguiu ainda dois gols, um feito por Soares, às 5,12 e o último às 5,18 por Zé Tasso”.
A partida foi dirigida por Alcindo Wanderley (Pitota), tendo as equipes jogado da seguinte maneira:
América - Lopes; Ayres Alexi; Rômulo, Bermudes e Robison; Karl, Sigismundo, Zé Tasso, Monteath e Soares.
Náutico - Nelson; Barbosa Lima e Guilherme; Oliveira, Bibi e Grevy; Amarrão, Amarinho, Manoel
Lopes, Ivan e Nadu.
Uma goleada que ficou na história
Uma página inesquecível do América Futebol Clube foi escrita no dia 3 de junho de 1956, quando o alviverde estabeleceu uma histórica vitória pela contagem de 6 x 3 diante do Santa Cruz. Aquele triunfo tornou-se mais importante ainda pelo fato de o goleiro tricolor ser o famoso Barbosa, titular da Seleção Brasileira seis anos antes, na Copa do Mundo disputada no Brasil e levantada pelo Uruguai, com os brasileiros sagrando-se vice-campeões.
Não só os torcedores do América festejaram, mas os adeptos dos outros clubes, com exceção dos tricolores, é claro, uma vez que o América sempre foi o segundo clube do pernambucano.
Na segunda feira, os jornais traziam manchetes enaltecendo a façanha do Campeão do Centenário. “O América arrancou a máscara do Santa Cruz”, dizia um. “Barbosa levou seu clube à derrocada”, afirmava outro. Ainda: “Barbosa em tarde negra” ou “Placar de bola de meia no clássico”.
Por esse último título dá para sentir que o clube da Estrada do Arraial ainda figurava no bloco dos grandes, tanto que seu encontro com o Santa Cruz era tratado como clássico.
Quem foi ao Estádio da Ilha do Retiro naquele domingo, jamais poderia imaginar no que estava para acontecer. O América tinha uma boa equipe, mas se tivesse sido feita uma enquete na Ilha do Retiro, a maioria certamente indicaria a vitória tricolor. O Santa, aliás, formava a base do time que no campeonato seguinte tornar-se-ia supercampeão pernambucano.
Dentro de campo, entretanto, a maioria dos prognósticos foi contrariada e a torcida coral só não linchou Barbosa porque houve uma proteção especial para ele por parte do presidente do clube, o comerciante Boanerges Costa. Este desafiou torcedores armados de pedras e paus ao sair do vestiário em companhia do goleiro, levando-o para seu carro, de onde rumou para qualquer ponto da cidade.
“Vou sair com o homem, para bater nele têm que bater primeiro em mim”, disse Boanerges à turba que se comprimia na frente do vestiário, deixando Barbosa receoso, diante da possibilidade de alguma reação violenta, apesar da advertência feita pelo presidente tricolor, o que, para sua felicidade, não aconteceu.
Gols e impropérios
A vitória do América começou a pintar aos 15 minutos, com um gol assinalado por Dimas, depois de passar por Aldemar, chamado de O Príncipe, por causa da classe que exibia (Anos mais tarde, Aldemar iria defender o Palmeiras, tendo chegado à Seleção Brasileira). Aos 19 minutos, alívio nas gerais, onde se concentrava o grosso da torcida santacruzense: o meia Rubinho empatava o jogo.
A partida mostrava equilíbrio, com o América resistindo às pontadas do Santa Cruz e partindo também para o ataque. Aos 40 minutos, numa de suas tentativas, o alviverde voltou a encontrar o caminho do gol, através do argentino Celly.
No intervalo, entre copos de cerveja ou picolés, torcedores do Santa Cruz, apesar da derrota parcial de 2 x 1, ainda faziam planos de ganhar a partida. As esperanças dos tricolores começaram a se desvanecer, logo aos 7 minutos da segunda fase, com novo gol de Dimas. O chute saiu fraquíssimo, Barbosa ainda chegou a tocar na bola, porém, não evitou que ela fosse aninhar-se no fundo de sua rede.
Calada, já sem ânimo, a galera tricolor acompanhava a movimentação de sua equipe, fustigando um adversário que lhe resistia bravamente. O povão saiu do marasmo em que se encontrava, aos 32 minutos, quando o atacante Otávio, deslocado para a ponta-esquerda, assinalava o segundo gol tricolor.
A geral voltava a se assanhar, e Anísio Campelo, o chefe da torcida, calça branca, camisa tricolor e boné idem, agitava sua enorme bandeira, puxando o coro:
“Um, dois, três, quatro, cinco, seis
Torcemos com prazer
Queremos a vitória
Nosso lema é vencer
Uah, uah, uah, Santa Cruz.”
Esse entusiasmo cederia lugar novamente à tristeza, três minutos depois, quando o centroavante Macaquinho, aproveitando uma saída em falso de Barbosa, fazia o garoto do placar mexer nos números outra vez: América 4 x 2.
O desespero tomava conta da massa. Os maiores impropérios eram assacados contra Barbosa, que estaria facilitando a vitória americana para forçar sua liberação, posto que dias antes havia pedido rescisão de contrato, uma vez que pretendia voltar para o Rio de Janeiro.
Para aumentar a revolta da torcida tricolor, um minuto depois do gol de Macaquinho, um chute despretensioso de Zezinho, o ponta-direita Zezinho Caixão, vai se aninhar no barbante. Era o América balançando a rede pela quinta vez. Puro bambo, pois a intenção de Zezinho era centrar a bola na área, mas o chute pegou errado. Sorte dele e azar de Barbosa. Mais do que uma goleada, uma tragédia. A torcida do Santa mostrava-se cada vez mais raivosa.
“Não adianta o pessoal brigar e fazer gol lá na frente porque esse moleque tá na gaveta”, dizia um. “É melhor tirá-lo e deixar o time com dez”, propunha outro torcedor, exalando sua revolta. E a esculhambação em cima do goleiro não parava: “Quer voltar pro Rio e tá deixando a bola passar, de propósito”. Ou: “Ele não sai vivo daqui, vou mostrar como age uma de macho de vergonha”.
Isaldo ainda desconta para o Santa, mas Zezinho dá o golpe de misericórdia, assinalando o sexto gol tricolor. Placar final: América 6, Santa Cruz 3.
O América alinhou: Leça; Geroldo e Cido; Claudionor, Rosael e Claudinho; Zezinho, Dimas, Macaquinho, Celly e Gilberto Segundo.
O Santa Cruz foi goleado com: Barbosa; Palito e Guta; Zequinha, Aldemar e Edinho; Jorge de Castro, Wassil, Isaldo, Rubinho e Otávio.
O time campeão do centenário
RÔMULO, JOÃO BATISTA, FAUSTINO, OSCAR, LINDOLPHO, HENRIQUE,
LUIZ SELVA, MANOEL, FERNANDO, FÁBIO, JOSÉ TASSO, ARTUR, CARLOS LAPA e JORGE.
CAMPEÃO PERNAMBUCANO DE 1922
O jogo que deu ao América o singular e invejável título de campeão do centenário, realizado no campo da Jaqueira , a 25 de Novembro de 1922, contra o Sport Recife, teve apenas 8 minutos de duração.O curto período era para completar os 45 minutos do 2°tempo da partida que haviam feito na abertura do certame e que fora suspenso por falta de iluminação.Na oportunidade o América vencia por 2x1.
A partida de 8 minutos se revestiu de circunstância especial pelo seguinte motivo: o alviverde acabou o campeonato somando 10 pontos positivos e 2 negativos,enquanto o Sport terminou com 11 ganhos e 1 perdido. Na soma de ambos, não estava computado o jogo interrompido. Se, nos 8 minutos, o placar se mantivesse inalterado, prevaleceria o escore da partida suspensa ficando o America consequentemente com 12 pontos. Se, porém, o Sport marcasse 1 gol, a partida estaria obviamente empatada e o rubronegro seria o campeão.
O America-Parque, como era chamado pelos cronistas o campo do alviverde, na Jaqueira, se encheu de gente como fosse assistir a um jogo normal de 90 minutos. A partida foi reiniciada com bola ao chão pelo juiz Gastão Bitencourt. O Sport foi todo ao ataque de forma desesperada em busca do empate, o suficiente para garantir o título. O América não deu tréguas ao seu rival, mantendo incólume sua meta até o final, conseguindo o campeonato do qual ainda hoje se ufana.
Embora o América não tivesse conquistado quatro campeonatos consecutivos, pois perdera o de 1920 para o Sport, seus jogadores receberam honras de tetracampeões pernambucanos de futebol, não só pela diretoria do clube, mas também pela imprensa, que fez publicar uma larga foto com o rosto de todos os jogadores que participaram da campanha de 1918 até 1922.
O último título
EM PÉ: ZEZINHO, CAPUCO, JULINHO, DJALMA, EDGARD e OSÉAS;
AGACHADOS: PEDRINHO, BARBOSA, LEÇA, GALEGO e RUBENS.
Campeão de 1944, este seria seu último título pernambucano.
“O Recife viveu horas de grande vibração esportiva, vibração espontânea e justificada do povo, à tarde e durante a noite de anteontem, quando o glorioso América Futebol Clube sagrou-se, mais uma vez, campeão pernambucano de futebol [ganhou do Náutico, com um placar de 3x0. Aquela grande assistência que lotava parte das dependências do estádio da Ilha do Retiro recebeu com verdadeiro júbilo o triunfo do esquadrão ame- ricano, numa disputa leal, onde vencidos e vencedores foram dignos dos mais francos aplausos. O triunfo do América, não o triunfo de domingo, mas o triunfo do campeonato foi justo e merecido. Depois de 17 anos de trabalho, 17 anos de sonhos, o campeão do Centenário, honrando as suas tradições de baluarte dos desportos pernambucanos, conquista maisum custoso laurel para a sua história.” (Diário de Pernambuco de 20 de fevereiro de 1945.”
Após a conquista do campeonato de 1944 pelo América, somente os outros três grandes times da capital pernambucana levantaram o caneco.
Presente e futuro
O presente do América tem sido difícil já há alguns anos na segunda divisão de Pernambuco e fora das disputas regionais e nacionais, na segunda divisão desde de 1995, o clube encontra-se hoje inclusive fora do pernambucano da série A2, onde nesse processo é possível destacar a tentativa de um grupo de torcedores pernambucanos, que sequer virão o América em seus tempos de glória, nem por isso menos apaixonados, que pensam em criar uma associação de amigos do clube e se juntar a diretoria e a comunidade pernambucana no tento de ajudar o América, que ele volte a brilhar para que seu futuro possa ser diferente de seu presente e na medida do possível possa dar alegrias só de vê-lo jogar novamente, buscando sempre um passado de glórias, mas acima de tudo construindo um presente diferente para que o América possa ainda existir num futuro não tão distante.
Fontes:
Blog Futebol de Pernambuco em Fotos.
Blog do mequinha
Página eletrônica do jornalista Lenivaldo Aragão
Wikipedia – Campeonato Pernambucano - América
Este artigo é uma homenagem a um amigo, torcedor do América, que nos deixou num sábado do carnaval de 2008, Sr. Luis de França, que possuía uma banca de revistas, quase no cruzamento das ruas Conde de Irajá com José Bonifácio, na Torre, Recife. Partilhei com o Sr. Luis bons momentos, onde o mesmo me contou muitos causos dos idos das décadas de 40/50, sobre o bairro da Torre, o cinema onde hoje se encontra o prédio onde moro e, claro, sobre o América, sua única paixão no futebol.
América Futebol Clube é um clube brasileiro de futebol, da cidade do Recife, capital do estado de Pernambuco. Sua sede histórica ficava localizada na estrada do Arraial no tradicional bairro de Casa Amarela, zona norte da cidade.
História
Foto dos fundadores do América
O América foi fundado em 12 de abril de 1914 com o nome de João de Barros Futebol Clube, por ter surgido numa casa situada na avenida do mesmo nome. Quase foi o primeiro penta-campeão do futebol pernambucano.
Em 22 de agosto de 1915 passou a ter a denominação atual a pedido do desportista Belfort Duarte, ligado ao América do Rio de Janeiro, que viera ao Recife buscar apoio para a fundação da Federação Nacional de Esportes, antecessora da antiga CBD.
Em visita a Pernambuco em agosto de 1915, Belfort Duarte, um dos símbolos do futebol brasileiro, recebeu uma homenagem do JBFC. Na noite de 22 de agosto, Belfort Duarte foi distinguido como capitão honorário do clube e mudou o nome do clube para América Futebol Clube, em homenagem ao seu clube de coração: o América Football Club do Rio de Janeiro.
“Comunico-vos que em Assembléia Geral do João de Barros Futebol Clube, reunida no dia 22 de agosto de 1915 deliberou a mudança de nome daquela sociedade que ficou denominada "América Futebol Clube", convicto que esta deliberação em nada mudará as atenções dispensadas ao nosso antigo JBFC e espero a continuação das mesmas ao América Futebol Clube.
Carta de Belfort Duarte enviada a imprensa.”
Títulos
Troféu Nordeste: 1923
Estaduais
Campeonato Pernambucano: 6 vezes (1918, 1919, 1921, 1922, 1927 e 1944).
Vice-Campeonato Pernambucano: 9 vezes (1923, 1924, 1930, 1941, 1945, 1947, 1948, 1950 e 1952).
Torneio Início: 11 vezes (1921, 1930, 1931, 1934, 1936, 1938, 1941, 1943, 1955, 1967 e 1970).
Taça Recife: 1975.
Ídolos:
Alberto Salonni: jogou pelo América em 1932
Vavá: jogou pelo América em 1948, mas sem muito destaque logo se transferiu para o Íbis Sport Club e Sport Club do Recife, jogou na seleção brasileira.
Zé Tasso: jogou pelo América de 1918 a 1923
Dequinha: participou da Copa do Mundo de 1950.
Oséias: campeão da ultima conquista do América pelo pernambucano em 1944.
Torcedores ilustres:
João Cabral de Melo Neto (escritor)
Rubem Moreira (Rubão): ex-presidente da Federação Pernambucana de Futebol
Alexandre G. Moreira Miranda: ex-presidente do Santa Cruz Futebol Clube e também ex-presidente do América Futebol Clube
América Bicampeão 1919
Curiosidades
- O América já teve a terceira maior torcida do estado, ficando atrás apenas do Santa Cruz e do Sport. Perdeu a posição para o Náutico, seu maior rival. Atualmente não tem um número expressivo de torcedores.
- O América é a quarta força do estado de Pernambuco em se tratando em número de títulos conquistados. Atualmente a quarta força do estado é o Central da cidade de Caruaru que não tem nenhum título pernambucano da 1° divisão.
- O América Futebol Clube, mesmo com tanta tradição na área futebolistica, nunca teve um estádio propriamente dito. Até o inicio dos anos 1990 era comum vê-lo jogando com mando de campo nos estádios dos principais rivais.
- O América já teve outros esportes agregados além do futebol, como o futebol de salão onde conquistou o título da cidade do Recife em 1981 e o título pernambucano de 1985 e o vice campeonato em 1989 e o basquete este sendo vice campeão pernambucano em 1977 e 1978.
A importância do América no futebol pernambucano
As novas gerações não têm idéia da importância do América, em épocas já remotas. Se hoje o futebol pernambucano tem três grandes equipes, até meados dos anos 50 do século passado eram quatro. Tanto que o encontro entre o alviverde e o Náutico era denominado de Clássico da Técnica e da Disciplina.
Os concursos com tampinhas de refrigerantes, como a laranjada Cliper, traziam a foto dos craques do América, junto com os do Náutico, Sport e Santa Cruz.
Velhos americanos atribuem à falta de um estádio, ao contrário de Náutico, Santa Cruz e Sport, um dos motivos de o América ter encolhido através dos anos.
Na verdade, o alviverde não tinha pouso certo. Ora treinava nos Aflitos, ora na Ilha do Retiro – ainda não havia o Arruda – em troca da indicação daquele estádio para os jogos cujo mando lhe pertencia. O campo de Bebinho Salgado, em Apipucos, durante muito tempo acolheu os periquitos, como também eram chamados os americanos.
Em 1981, o alviverde transferiu seu futebol para Jaboatão dos Guararapes, cidade de grande porte geminada ao Recife. Era a tentativa de abrir um novo espaço e atrair o pessoal da terra. Não deu certo. Voltou para a Estrada do Arraial. Mais tarde houve outra mudança para Jaboatão. Mais frustração.
De uns anos para cá, depois que a Federação Pernambucana de Futebol, visando a evitar troca de favores, determinou que é necessário que o clube inscrito no campeonato indique um estádio para mandar seus jogos, que não seja o de qualquer um dos demais concorrentes, o América, a exemplo de um Íbis ou de um Decisão, recém-fundado, começou a andar de um canto para outro. Esteve em Bonito e Goiana, sempre contando com a ajuda, que não era lá essas coisas, do município.
Hoje, batalhando para voltar à elite, o Campeão do Centenário terá seu sonho adiado. Estava inscrito na Série A2, a segunda divisão pernambucana, para disputar o campeonato de 2007, mas tirou o time, literalmente. Levaria seus jogos para Goiana – 50 quilômetros do Recife, na Zona da Mata Norte -, onde já esteve no ano passado. Alegando falta de apoio da prefeitura, pediu afastamento do campeonato. Só que, de acordo com o regimento da FPF terá que voltar dentro de dois anos, sob pena de ser desfiliado.
Concorrente de peso ao título de campeão, o América lutava de igual para igual com alvirrubros, tricolores e rubro-negros, bem como com clubes já extintos – Torre, Flamengo e Tramways. Sua decadência coincidiu com o surgimento do Náutico, como potência. O clube dos Aflitos, situado relativamente perto do América, começou absorver a criançada da região que ia despertando para o futebol.
O dia em que o América humilhou o Náutico.
A vitória do América sobre o Náutico por 10x1, no dia 28 de abril de 1918,no campo da Ponte d’Uchoa, local de todos os jogos do certame daquele ano,constituiu-se na primeira grande goleada do futebol pernambucano.
Esta partida assinalou a estréia oficial pelo América dos jogadores Alecsi Nuyens e Francisco Bermudes, que pertenciam ao Palmeiras de São Paulo. Eram os dois mais novos sócios do América, como diziam os jornais, mas que na verdade não passavam de profissionais disfarçados.
Alecsi Nuyens, que a imprensa escrevia “Alexi”, era um vigoroso zagueiro central e fora contratado pelo clube alviverde,quando da sua vinda ao Recife em 1917,jogando pelo Palmeiras,a exemplo de Francisco Bermudes, que era centromédio.
Pelo seu físico avantajado, a imprensa local terminou apelidando Bermudes de ”Maxambomba”, em alusão aos trens da “Brazilian Street Railway” um dos meios de transportes da nossa capital nos primeiros anos deste século.
Os dois novos “sócios” do América, pela larga experiência e uma técnica mais apurada, foram os sustentáculos do clube esmeraldino em todo o campeonato. 0 investimento valeu a pena, pois o América acabou ganhando o certame de 1918, seu primeiro título de futebol.
O “Jornal Pequeno” (29.4.1918) contou desta maneira a marcha do placar:
“Os alviverdes estão senhores da situação, e o Náutico pouco a pouco vai cedendo as suas posições até que Monteath, a uns trinta metros de distância faz às 4,8 o 1.° gol dos americanos.
Diversas faltas de ambas as partes são punidas; numa delas, Barbosa Lima chuta, Alexi com um belo heading defende magistralmente a iminência daquele gol, fazendo dirigir-se a bola para Sigismundo, que, passando para a extrema, consegue driblar a Barbosa Lima e fazer às 4,16 o 2.° gol do América.
O alvirrubro a mais e mais vai se entregando. Sigismundo consegue tomar a pelota de Grevy e passá-la a Karl que, atrapalhado por Barbosa Lima, a entrega a Soares. Este estando maL colocado, passa a Monteath que, por estar em impedimento, é punido com um tiro livre.
Mas o domínio do América era um fato. Logo depois Zé Tasso, às 4,21 faz o 3.° gol do seu clube.
Também Karl, aproveita o desânimo da linha náutica, e faz o 4.° gol.
As 4,30, Soares, o único até então da linha que não fizera gol, completa o 5.° ponto de uma bela passagem de Zé Tasso. E com esse escore termina o 1.° tempo.
Na segunda fase do jogo nota-se na fisionomia dos jogadores alvirrubros o cansaço, o desânimo,o esgotamento. O América extraordinariamente mais forte que o seu antagonista ataca rigorosamente o Náutico, conseguindo dentro de 5 minutos três gols: um feito por Sigismundo às 4,59, outro por Zé Tasso, às 5,1 outro às 5,4 por Monteath. Nesse ínterim há uma falta contra o América; batida, Alexi defende com a testa, porém a pelota cai perto dos pés de Ivan, que às 5,8 faz o único ponto para seu clube.
Mas o América não queria empatar com o Sport (21), queria mais, e assim conseguiu ainda dois gols, um feito por Soares, às 5,12 e o último às 5,18 por Zé Tasso”.
A partida foi dirigida por Alcindo Wanderley (Pitota), tendo as equipes jogado da seguinte maneira:
América - Lopes; Ayres Alexi; Rômulo, Bermudes e Robison; Karl, Sigismundo, Zé Tasso, Monteath e Soares.
Náutico - Nelson; Barbosa Lima e Guilherme; Oliveira, Bibi e Grevy; Amarrão, Amarinho, Manoel
Lopes, Ivan e Nadu.
Uma goleada que ficou na história
Uma página inesquecível do América Futebol Clube foi escrita no dia 3 de junho de 1956, quando o alviverde estabeleceu uma histórica vitória pela contagem de 6 x 3 diante do Santa Cruz. Aquele triunfo tornou-se mais importante ainda pelo fato de o goleiro tricolor ser o famoso Barbosa, titular da Seleção Brasileira seis anos antes, na Copa do Mundo disputada no Brasil e levantada pelo Uruguai, com os brasileiros sagrando-se vice-campeões.
Não só os torcedores do América festejaram, mas os adeptos dos outros clubes, com exceção dos tricolores, é claro, uma vez que o América sempre foi o segundo clube do pernambucano.
Na segunda feira, os jornais traziam manchetes enaltecendo a façanha do Campeão do Centenário. “O América arrancou a máscara do Santa Cruz”, dizia um. “Barbosa levou seu clube à derrocada”, afirmava outro. Ainda: “Barbosa em tarde negra” ou “Placar de bola de meia no clássico”.
Por esse último título dá para sentir que o clube da Estrada do Arraial ainda figurava no bloco dos grandes, tanto que seu encontro com o Santa Cruz era tratado como clássico.
Quem foi ao Estádio da Ilha do Retiro naquele domingo, jamais poderia imaginar no que estava para acontecer. O América tinha uma boa equipe, mas se tivesse sido feita uma enquete na Ilha do Retiro, a maioria certamente indicaria a vitória tricolor. O Santa, aliás, formava a base do time que no campeonato seguinte tornar-se-ia supercampeão pernambucano.
Dentro de campo, entretanto, a maioria dos prognósticos foi contrariada e a torcida coral só não linchou Barbosa porque houve uma proteção especial para ele por parte do presidente do clube, o comerciante Boanerges Costa. Este desafiou torcedores armados de pedras e paus ao sair do vestiário em companhia do goleiro, levando-o para seu carro, de onde rumou para qualquer ponto da cidade.
“Vou sair com o homem, para bater nele têm que bater primeiro em mim”, disse Boanerges à turba que se comprimia na frente do vestiário, deixando Barbosa receoso, diante da possibilidade de alguma reação violenta, apesar da advertência feita pelo presidente tricolor, o que, para sua felicidade, não aconteceu.
Gols e impropérios
A vitória do América começou a pintar aos 15 minutos, com um gol assinalado por Dimas, depois de passar por Aldemar, chamado de O Príncipe, por causa da classe que exibia (Anos mais tarde, Aldemar iria defender o Palmeiras, tendo chegado à Seleção Brasileira). Aos 19 minutos, alívio nas gerais, onde se concentrava o grosso da torcida santacruzense: o meia Rubinho empatava o jogo.
A partida mostrava equilíbrio, com o América resistindo às pontadas do Santa Cruz e partindo também para o ataque. Aos 40 minutos, numa de suas tentativas, o alviverde voltou a encontrar o caminho do gol, através do argentino Celly.
No intervalo, entre copos de cerveja ou picolés, torcedores do Santa Cruz, apesar da derrota parcial de 2 x 1, ainda faziam planos de ganhar a partida. As esperanças dos tricolores começaram a se desvanecer, logo aos 7 minutos da segunda fase, com novo gol de Dimas. O chute saiu fraquíssimo, Barbosa ainda chegou a tocar na bola, porém, não evitou que ela fosse aninhar-se no fundo de sua rede.
Calada, já sem ânimo, a galera tricolor acompanhava a movimentação de sua equipe, fustigando um adversário que lhe resistia bravamente. O povão saiu do marasmo em que se encontrava, aos 32 minutos, quando o atacante Otávio, deslocado para a ponta-esquerda, assinalava o segundo gol tricolor.
A geral voltava a se assanhar, e Anísio Campelo, o chefe da torcida, calça branca, camisa tricolor e boné idem, agitava sua enorme bandeira, puxando o coro:
“Um, dois, três, quatro, cinco, seis
Torcemos com prazer
Queremos a vitória
Nosso lema é vencer
Uah, uah, uah, Santa Cruz.”
Esse entusiasmo cederia lugar novamente à tristeza, três minutos depois, quando o centroavante Macaquinho, aproveitando uma saída em falso de Barbosa, fazia o garoto do placar mexer nos números outra vez: América 4 x 2.
O desespero tomava conta da massa. Os maiores impropérios eram assacados contra Barbosa, que estaria facilitando a vitória americana para forçar sua liberação, posto que dias antes havia pedido rescisão de contrato, uma vez que pretendia voltar para o Rio de Janeiro.
Para aumentar a revolta da torcida tricolor, um minuto depois do gol de Macaquinho, um chute despretensioso de Zezinho, o ponta-direita Zezinho Caixão, vai se aninhar no barbante. Era o América balançando a rede pela quinta vez. Puro bambo, pois a intenção de Zezinho era centrar a bola na área, mas o chute pegou errado. Sorte dele e azar de Barbosa. Mais do que uma goleada, uma tragédia. A torcida do Santa mostrava-se cada vez mais raivosa.
“Não adianta o pessoal brigar e fazer gol lá na frente porque esse moleque tá na gaveta”, dizia um. “É melhor tirá-lo e deixar o time com dez”, propunha outro torcedor, exalando sua revolta. E a esculhambação em cima do goleiro não parava: “Quer voltar pro Rio e tá deixando a bola passar, de propósito”. Ou: “Ele não sai vivo daqui, vou mostrar como age uma de macho de vergonha”.
Isaldo ainda desconta para o Santa, mas Zezinho dá o golpe de misericórdia, assinalando o sexto gol tricolor. Placar final: América 6, Santa Cruz 3.
O América alinhou: Leça; Geroldo e Cido; Claudionor, Rosael e Claudinho; Zezinho, Dimas, Macaquinho, Celly e Gilberto Segundo.
O Santa Cruz foi goleado com: Barbosa; Palito e Guta; Zequinha, Aldemar e Edinho; Jorge de Castro, Wassil, Isaldo, Rubinho e Otávio.
O time campeão do centenário
RÔMULO, JOÃO BATISTA, FAUSTINO, OSCAR, LINDOLPHO, HENRIQUE,
LUIZ SELVA, MANOEL, FERNANDO, FÁBIO, JOSÉ TASSO, ARTUR, CARLOS LAPA e JORGE.
CAMPEÃO PERNAMBUCANO DE 1922
O jogo que deu ao América o singular e invejável título de campeão do centenário, realizado no campo da Jaqueira , a 25 de Novembro de 1922, contra o Sport Recife, teve apenas 8 minutos de duração.O curto período era para completar os 45 minutos do 2°tempo da partida que haviam feito na abertura do certame e que fora suspenso por falta de iluminação.Na oportunidade o América vencia por 2x1.
A partida de 8 minutos se revestiu de circunstância especial pelo seguinte motivo: o alviverde acabou o campeonato somando 10 pontos positivos e 2 negativos,enquanto o Sport terminou com 11 ganhos e 1 perdido. Na soma de ambos, não estava computado o jogo interrompido. Se, nos 8 minutos, o placar se mantivesse inalterado, prevaleceria o escore da partida suspensa ficando o America consequentemente com 12 pontos. Se, porém, o Sport marcasse 1 gol, a partida estaria obviamente empatada e o rubronegro seria o campeão.
O America-Parque, como era chamado pelos cronistas o campo do alviverde, na Jaqueira, se encheu de gente como fosse assistir a um jogo normal de 90 minutos. A partida foi reiniciada com bola ao chão pelo juiz Gastão Bitencourt. O Sport foi todo ao ataque de forma desesperada em busca do empate, o suficiente para garantir o título. O América não deu tréguas ao seu rival, mantendo incólume sua meta até o final, conseguindo o campeonato do qual ainda hoje se ufana.
Embora o América não tivesse conquistado quatro campeonatos consecutivos, pois perdera o de 1920 para o Sport, seus jogadores receberam honras de tetracampeões pernambucanos de futebol, não só pela diretoria do clube, mas também pela imprensa, que fez publicar uma larga foto com o rosto de todos os jogadores que participaram da campanha de 1918 até 1922.
O último título
EM PÉ: ZEZINHO, CAPUCO, JULINHO, DJALMA, EDGARD e OSÉAS;
AGACHADOS: PEDRINHO, BARBOSA, LEÇA, GALEGO e RUBENS.
Campeão de 1944, este seria seu último título pernambucano.
“O Recife viveu horas de grande vibração esportiva, vibração espontânea e justificada do povo, à tarde e durante a noite de anteontem, quando o glorioso América Futebol Clube sagrou-se, mais uma vez, campeão pernambucano de futebol [ganhou do Náutico, com um placar de 3x0. Aquela grande assistência que lotava parte das dependências do estádio da Ilha do Retiro recebeu com verdadeiro júbilo o triunfo do esquadrão ame- ricano, numa disputa leal, onde vencidos e vencedores foram dignos dos mais francos aplausos. O triunfo do América, não o triunfo de domingo, mas o triunfo do campeonato foi justo e merecido. Depois de 17 anos de trabalho, 17 anos de sonhos, o campeão do Centenário, honrando as suas tradições de baluarte dos desportos pernambucanos, conquista maisum custoso laurel para a sua história.” (Diário de Pernambuco de 20 de fevereiro de 1945.”
Após a conquista do campeonato de 1944 pelo América, somente os outros três grandes times da capital pernambucana levantaram o caneco.
Presente e futuro
O presente do América tem sido difícil já há alguns anos na segunda divisão de Pernambuco e fora das disputas regionais e nacionais, na segunda divisão desde de 1995, o clube encontra-se hoje inclusive fora do pernambucano da série A2, onde nesse processo é possível destacar a tentativa de um grupo de torcedores pernambucanos, que sequer virão o América em seus tempos de glória, nem por isso menos apaixonados, que pensam em criar uma associação de amigos do clube e se juntar a diretoria e a comunidade pernambucana no tento de ajudar o América, que ele volte a brilhar para que seu futuro possa ser diferente de seu presente e na medida do possível possa dar alegrias só de vê-lo jogar novamente, buscando sempre um passado de glórias, mas acima de tudo construindo um presente diferente para que o América possa ainda existir num futuro não tão distante.
Fontes:
Blog Futebol de Pernambuco em Fotos.
Blog do mequinha
Página eletrônica do jornalista Lenivaldo Aragão
Wikipedia – Campeonato Pernambucano - América
Este artigo é uma homenagem a um amigo, torcedor do América, que nos deixou num sábado do carnaval de 2008, Sr. Luis de França, que possuía uma banca de revistas, quase no cruzamento das ruas Conde de Irajá com José Bonifácio, na Torre, Recife. Partilhei com o Sr. Luis bons momentos, onde o mesmo me contou muitos causos dos idos das décadas de 40/50, sobre o bairro da Torre, o cinema onde hoje se encontra o prédio onde moro e, claro, sobre o América, sua única paixão no futebol.
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